domingo, 25 de maio de 2014

Porto seguro


Deixei a música entrar pelos meus ouvidos. 
Tentei abafar meus pensamentos. 
Tentei fazer as lembranças sumirem. 
Mais uma vez parecia impossível. 
Olhei ao meu redor e encontrei todos me julgando mais uma vez. 
Até quando isso vai durar? 
Até quando vou sentir as chamas me consumirem aos poucos? 
Fechei os olhos mais um vez, com esperança que quando abrisse tudo sumisse. 
Nada. 
Tudo continuava da mesma forma. 
Pela primeira vez em anos deixei as lágrimas rolarem pela minha face. 
Elas queimaram por onde passaram mas de alguma forma aliviaram. 
Olhei para os meus pulsos e lembrei das marcas que normalmente eles carregavam. 
Já faz tanto tempo que as cicatrizes sumiram que nem me lembro como elas eram. 
Olhei ao meu redor procurando algo que pudesse me ajudar. 
Então encontrei seus olhos. 
Eles são de um tom de castanho claro que parece mel. 
Quando olhei neles percebi a burrada que estava preste a fazer. 
Foram dias de luta e dor para virar uma sobrevivente. Uma guerreira. E estava preste a jogar tudo fora. 
Prestes a fazer aquilo que eu tenho lutado para viver sem. 
Tudo porque uma menina jogou na minha cara que eu era inútil e que nunca poderia substitui-la em um jogo. 
Arrumei forças através dos seus olhos. 
Me levantei e caminhei de volta para o jogo. 
Pela primeira vez em anos deixei a raiva me consumir. 
Me posicionei e deixei que a bola viesse até mim e simplesmente provei que ela estava errada. 
Que ela não podia fazer isso com as pessoas. Que ela não é melhor que ninguém. Que todos somos dignos de sorrir e tentar. 
Eu a destruí com apenas um sorriso. 
E mostrei para ela que todos, TODOS somos importantes. 
O juiz apitou e o jogo acabou. 
Não liguei para mais nada. 
Apenas esperei seus braços me envolverem. 
Senti seu cheiro em mim mais uma vez e o calor dos seus braços. 
E pela primeira vez em anos me senti segura. 

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